Perrengues de viagem – perdi a carteira na Bolívia!

Os perrengues bárbaros de viagem dessa vez ocorreram na Bolívia, na nossa road trip entre o Atacama e o Salar de Uyuni.

Era o segundo dia da viagem, estávamos cruzando o altiplano boliviano. A última parada daquele dia foi em um barzinho no meio do nada, perto de uma linha de trem abandonada, onde a maioria, se não todos os grupos, param para experimentar umas cervejas diferentes e confraternizar um pouco, além de tirar fotinhos no local.

Feliz da vida até que…

Cadê nossa carteira?

Fomos lá escolher uma cervejinha para a gente, quando percebemos que nossa carteira com todo nosso dinheiro, cartões, entradas da Reserva Nacional da Fauna Andina Eduardo Avaroa e habilitação do Yu tinha sumido. Nos restavam somente nossos passaportes, mais nada.

Nem experimentamos…

Colocamos aquele carro abaixo, verificamos e reverificamos e nada. E agora?? Sentei no chão e chorei contidamente por uns 5 minutos, refazendo nossos passos e ações. A última vez que lembrávamos de tê-la visto foi quando paramos para almoçar, muitos quilômetros atrás. A teríamos perdido? Será que foi furtada?

E agora?

E agora, como a gente vai sair da Bolívia se a gente está sem o ingresso da reserva e não temos dinheiro para pagar novamente? Como continuaríamos a viagem sendo que a gente ainda tinha mais uma entrada para pagar (da Isla Incahuasi)? Ao menos comida e hospedagem a gente tinha…

(Como comentei no primeiro post da série Bolívia, tínhamos que guardar essas entradas muito bem pois, quando retornássemos, deveríamos mostra-las para dar saída. Caso contrário, teríamos que pagá-las novamente).

Depois do pânico inicial, levantei, limpei as lágrimas, deixei o orgulho de lado e decidi fazer a única coisa que me restava naquele momento: pedir dinheiro para a turistada reunida. Pois é meu povo, já pedi esmola nessa vida de viajante! Expliquei o ocorrido, tentando não chorar, mas chorei, disse que só precisava de dinheiro para poder voltar para San Pedro de Atacama, pois lá nós tínhamos dinheiro e meu cartão de crédito, que havíamos deixado no depósito de bagagens do hotel.

Só precisávamos de uns Bs300, para pagar a entrada da reserva e da Isla. O resto a gente podia ficar sem (banho e outros mimos). Absolutamente todo mundo nos ajudou e acabamos conseguindo mais que o dobro do que precisávamos! Tentei devolver, mas o pessoal falou que a gente precisava mais que eles!! Meu, foi um momento muito especial e inesquecível nas nossas vidas. Sou eternamente grata a todos que nos ajudaram!!!

Como bloquear cartões e documentos?

Aí veio a preocupação de bloquear os cartões de crédito no meio do deserto sem internet. Foi aí que o Yony (leia-se Johnny, ou melhor, Xôni) nos salvou pela primeira vez. Ele nos emprestou seu celular e conseguimos falar com a minha mãe que fez o que podia para nos ajudar a bloquear os cartões e documentos.

O sinal era ultra ruim, a comunicação foi bem precária, mas ela conseguiu bloquear tudo, exceto o cartão do Santander (pior banco do universo. Nos deixou na mão a viagem inteira e por este motivo fechamos a conta assim que retornamos. Zero suporte no exterior).

Fica a dica!

Sabe aquela coisa que você sabe que não deve fazer e a única vez que faz dá errado? Então. Pela primeira vez na vida a gente havia deixado na carteira dinheiro que não precisaríamos naquele trecho da viagem, que seria usado somente quando retornássemos para SPA, onde teríamos ainda 4 dias de passeio.

Quase todas as vezes, deixamos na carteira somente o que será usado no dia e uma gordurinha para apuros. Nunca deixamos todo ou parte do dinheiro, além de sempre separarmos o dinheiro entre nós dois. Fizemos absolutamente tudo errado neste trecho.

Que viagem maravilhosa essa. Ficamos 7 dias no Atacama, separados em 3 dias pré Bolívia e 4 pós, sendo que o primeiro foi para reservar todos os nossos passeios por estes dois lugares surreais de lindos!

E ela atacou novamente…

Logo, não consegui relaxar por completo o restante da viagem, pois apesar da parte boliviana estar resolvida, a chilena ainda nos assombrava. Minha gastrite atacou a noite, não consegui jantar direito, justo o jantar que tinha vinho…

Notem os olhos e nariz vermelhos da pessoa durante o jantar no hotel de sal. Além do sorriso chocho.

E ainda para ajudar, foi bem no dia que teria banho quente, pelo qual não poderíamos pagar. Aí que surge o Yony novamente, que falou com os donos da pousada, explicou nossa situação, e eles liberaram o banho para a gente!!! Falei que o Yony era demais!!!

Antes de reservar seu tour compartilhado ou privativo pela Bolívia, pesquise bem sobre as agências.

Tentei comer, mas não rolou. Fui tomar banho, me entupi de dramin e capotei.

Chegamos no Salar de Uyuni. Uhu! Mais ou menos…

No dia seguinte levantamos de madrugada para ver o nascer do sol no Salar de Uyuni. Que momento incrível! No entanto não consegui aproveita-lo ao máximo. Tudo passava e repassava pela minha cabeça. Tentava não me angustiar com a perda de dinheiro (perdemos mais de mil reais na conversão daquela época), mas sabe como é mão de vaca… Tive minha primeira crise de choro do dia, mas somente eu e o Salar sabíamos daquilo.

Seguimos viagem para Isla Incahuasi. Enquanto fazíamos a trilha, tive minha segunda crise de choro… Dessa vez o Yu estava comigo. Ele tentou me consolar, mas estava muito difícil não pensar naquilo.

Depois do café da manhã, fomos fazer as fotos em perspectiva no Salar. Naquele momento achei que tinha superado. Afinal, há quanto tempo não planejava aquele momento. Apesar dos pesares, a viagem continuava como planejado!

Apesar de não ter aproveitado quanto eu deveria, conhecer o Salar de Uyuni foi incrível. Tem que estar na sua bucket list!!

No entanto, quando chegamos no povoado de Colchani, local onde havia planejado comprar todas as lembrancinhas de viagem, tive minha terceira e pior crise de choro.

Não guarde suas emoções

Chorei de soluçar, sentei no chão e chorei como uma criança. Na frente de todos. Perdi o controle. Mas acho que era o que precisava ter feito desde o início, pois foi quando finalmente liberei toda a frustação que sentia. Era tarde. Fui idiota e acabei não curtindo ao máximo aquele dia.

Me sentia envergonhada, impotente. Que misto de sensações horrível. Mas perrengues de viagem nos transformam – ou pelo menos me transformam. Sempre saio mais forte e mais preparada para outros perrengues de viagem ou perrengues do dia a dia mesmo.

Quem disse que os perrengues de viagem haviam acabado?

Assim que chegamos na cidade de Uyuni, enquanto aguardávamos pelo motorista que nos levaria de volta a SPA, decidimos passar na delegacia para fazer um BO e para quem sabe conseguir algum ressarcimento do seguro viagem. Senta que lá vem mais perrengues de viagem:

  • Primeiro – fomos na delegacia errada, mas os policiais nos levaram de viatura até a delegacia certa.
  • Segundo – na delegacia certa esperamos muito até sermos atendidos. Quando estávamos desistindo, pois estava próximo do horário que deveríamos estar de volta na agência, finalmente nos atenderam e conseguimos fazer o BO. Bobinhos…!
  • Terceiro – o policial terminou de redigir, estava mandando imprimir, acabou a luz. Meeeeeu, como assim???????? Tivemos que ir embora sem o BO, depois de tudo isso!
  • Quarto – Voltamos para agência e comentamos com o pessoal o que havia acontecido. Nosso novo motorista topou voltar na delegacia para tentarmos fazer o BO novamente. Esperamos pelo menos meia hora e a luz não havia voltado… paciência, não dava mais para esperar. De qualquer forma, agradecemos nossa colega e ao motorista por terem topado esperar.

Após horas e quilômetros de viagem com uma trilha sonora terrível de ruim (gente do céu, socorro!), chegamos na Reserva Nacional da Fauna Andina Eduardo Avaroa. Era a hora da verdade. Será que pagaríamos novamente as entradas? Ao menos tínhamos dinheiro para isso.

Será que nossa sorte mudou?

O Yony já havia explicado a situação ao novo motorista. Ele explicou a situação aos funcionários da reserva que encontraram nossa entrada no livro de registro, então não tivemos que pagá-las novamente! Finalmente nossa sorte havia mudado!

E como mudou! Conversamos com a agência que havíamos contratado os passeios do Atacama e eles, compreendendo a situação, pagaram algumas das nossas entradas das atrações, as quais não estavam incluídas no pacote.

Ainda, como o Santander nos deixou na mão, não conseguimos sacar dinheiro no Chile com meu cartão de crédito, aquele que ficou na mala. Mas nós tínhamos um amigo em Santiago, o qual foi nosso guia durante nossa viagem pela região, que nos deu pesos chilenos pelos quais pagamos fazendo uma transferência online para uma conta brasileira dele.

O nome dele é Eder, dono da agência Tour em Chile. Conheço bem o trabalho dele por isso o recomendo.

Quando for a Santiago, não deixe de contatá-lo para reservar seus passeios, ainda mais que, se você falar que soube da agência pelo Experiência Barbara, fechando pelo menos 3 passeios você ganhará uma garrafa de vinho e 10% de desconto sobre o valor total!!!!

Você acha que essa história acabou?

Acabou, mas não com mais perrengues de viagem, com final feliz!!!

Mais ou menos um mês depois que retornamos, do nada, uma brasileira comenta em um post público do Yu no Facebook (que ele havia feito agradecendo o Eder por ter nos ajudado) algo assim: “Oi, precisamos falar com você, encontramos sua carteira”. Ooooooooooooi????? Quase infartamos.

Resumo da história: Um casal do sul encontrou nossa carteira quando pararam na estrada em um local bonito com umas lhamas. Lembram quando fomos correr atrás dos bebês emas? Então, foi lá que perdemos a carteira, quando largamos tudo no carro para ir atrás delas.

Saiba como foi nosso segundo dia pelo Altiplano Boliviano e como acabamos correndo atrás da Emas.

Não faça como eu, ou melhor, aprenda como eu e não pratique esse tipo de maldade com os animais!

Por sorte eles também se encantaram com esse trecho do altiplano boliviano, o qual não é ponto de parada comum dos tours, e lá também perderam sua GoPro. Enquanto a procuravam, encontraram nossa carteira! Ah! Eles encontraram a GoPro deles também! Essa região é quase como um triângulo das bermudas! Medo!

Coincidentemente, o voo deles tinha uma conexão em São Paulo e nos trouxeram a carteira com tudo dentro, o dinheiro, as entradas da reserva, os cartões, a carteira de motorista, tudo!!! Foram nossos anjos da guarda! Infelizmente não os encontramos pessoalmente e agora eles moram no Canadá, mas um dia os agradeceremos em pessoa!

Viu como conexão é demais!!! Saiba como usá-la para conhecer mais destinos com uma só passagem!

Tudo tem seu lado positivo!

Assim como perrengues de viagem são uma constante em nossas vidas, o mesmo podemos dizer sobre pessoas que aparecem para nos tirar deles. Esses perrengues de viagem na Bolívia nos fizeram acreditar e ter fé novamente no ser humano!!

Tivemos perrengues de viagem / anjos da guarda também na Turquia e na Namíbia!

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