Road Trip pelo Curdistão Turco
Já falei para vocês como organizar o seu roteiro geral pela Turquia e quanto custou nossa viagem. Agora vou falar mais especificamente por essa região pouco explorada por turistas estrangeiros. Essa roadtrip pelo Curdistão Turco tem que estar no seu roteiro!
Como fiquei sabendo da existência do Curdistão turco
Quando viajamos, gostamos de visitar todos os pontos turísticos conhecidos e, geralmente, acrescentamos um local, um bairro, fora da rota turística, mas que sempre tem algo a oferecer e surpreender!
Conversei com agências de viagem que oferecem pacotes na Turquia e perguntando se deveria ou não visitar o litoral, já que íamos viajar em março. Comentei com uma delas que na verdade preferiria um lugar com história, então ela me disse: Você tem que ir a Mardin! Mardin?? Onde fica isso?? Nunca ouvi falar!!
Coloquei no google e foi amor à primeira vista! Isso porque só tinha visto as imagens. Quando comecei a ler sobre a cidade eu só repetia: preciso conhecer esse lugar!!!
Mardin
Mardin fica no sudeste da Anatólia e a primeira referência que se tem da região é de 1230 a.C!!!! Com sua posição super estratégica, no alto de um morro situado em meio de uma grande planície, possui uma excelente visão de 360° do seu redor. Muitos impérios encontraram ali o ponto ideal para controle da região, local onde até hoje há uma fortaleza controlada pelo exército turco!
A cidade de Mardin (capital da província de Mardin), fica a cerca de 30km da fronteira com a Síria, está muito próxima da fronteira com o Iraque e, caso existisse, seria parte do país Curdistão.
Por estes motivos, até 2016 muito do que se lia sobre a região era sobre os ataques terroristas, confrontos entre aqueles de etnia curda e o governo turco. Logo, não era uma região segura a se visitar. Inclusive, até hoje no site da embaixada turca não recomenda visitá-la.
Contudo, lá ficamos sabendo que a região está bem segura hoje em dia. A cidade tem incentivado cada vez mais o turismo. Por exemplo, promove um concorrido festival de cinema durante o verão, e tem sido palco de diversas novelas turcas (muito do que encontrei durante as minhas pesquisas estava relacionado a elas. Até cruzamos com alguns sets de filmagem no caminho!!).
Mardin é uma cidade cosmopolita espalhada na planície, mas que ainda preserva (muito bem, diga-se de passagem) a belíssima old city com suas edificações em pedra, suas ruelinhas em pedra nas quais você vai se perdendo e descobrindo cada cantinho mais lindo que o outro e se transportando aos velhos tempos daquele pedacinho de mundo!
Mesopotâmia!
No entanto, para mim, o mais interessante foi saber que ali é parte da Mesopotâmia!! Lembram das aulas de história, aquela região super fértil entre os rios Tigre e Eufrates??? Pois é, é ali!!!
Gente, é surreal estar no alto do morro e ver aquela planície sem fim da Mesopotâmia aos seus pés e pensar em quanta história aquela região tem para contar!!! E para melhorar a experiência, é de uma beleza indescritível!
Diyarbakir
Outra cidade interessante é Diyarbakir, que fica um pouco mais ao norte, a cerca de 100 km de Mardin, e está às margens do rio Tigre. É considerada pela porção curda da população como a capital do Curdistão Turco. Seus quase 6 km de muralhas (segunda em comprimento no mundo), o castelo e os jardins de Hevsel, que ligam a cidade ao rio Tigre, foram classificadas em 2015 como patrimônio da Unesco!
As muralhas de Diyarbakir, construídas pelos romanos em 297 d.C, cercam a cidade velha com seus cerca de 10 metros de altura e largura entre 3 e 5 metros! São 4 portões de entrada e 82 torres de observação. A maioria foi construída pelos romanos, mas algumas foram reconstruídas durante o império otomano. Às margens do rio tigre, são ainda mais difíceis de serem sobrepostas pelos invasores!
Ao longo dos anos as muralhas foram sendo expandidas utilizando-se rochas vulcânicas da região, chamadas de basalto negro, e por isto a old city era conhecida como Fortaleza Negra. Quase todas as construções na cidade utilizam esse material e possuem coloração bem característica, dando uma identidade única ao local.
Características do Curdistão Turco
Com uma população predominantemente curda, mas também composta por turcos, sírios e árabes, a mistura de cultura, costumes, hábitos é enorme! Tive uma grata experiência nas cidades que visitei, a grande maioria extremamente hospitaleira e, mesmo com o inglês sofrível, tendendo a zero, tentaram se fazer entender e nos ajudar.
Não sei se é somente uma característica natural da população ou relacionado ao fato de finalmente estarem em paz e recebendo turistas, mais especificamente turistas brasileiros!!
Muitos nos perguntavam de onde éramos e ficavam chocados de saber que éramos brasileiros (os que sabiam o que era o Brasil já falavam de futebol e os muitos que não sabiam, ficavam se entreolhando tentando entender de onde teriam saído aqueles dois estrangeiros!), afinal, o turismo ainda é predominantemente turco.
Fiquei impressionada como um lugar tão multicultural, com diversas crenças religiosas vive em plena harmonia, com muito respeito e finalmente em paz, sendo que aqui no Brasil muitos não conseguem respeitar nem as diferentes opiniões sobre banalidades dos vizinhos…
Se você, como eu, curte conhecer locais menos explorados, o Edson do blog “Ligado em Viagem” visitou as cidades de Konya e Bursa, também na Turquia.
Quanto custa viajar para o Curdistão Turco?
Ainda uma joia a ser descoberta no sudeste da Turquia, o Curdistão é extremamente barato de se visitar. A maioria dos pontos de interesse são gratuitos ou muito baratos, hotéis superiores por excelentes preços e aquela comida deliciosa, uma mistura de árabe com turca (salivo só de lembrar) mais barata que um PF! Nos três dias gastamos R$1806,06 o casal conforme tabela abaixo:
Como chegar
Há voos diários tanto para o aeroporto de Diyarbakir como para o de Mardin (respectivamente, nossos pontos de chegada e saída da região) saindo de Istambul (dos dois aeroportos). Se estiver em Ankara (capital da Turquia) também há vôos diários. Nós utilizamos a Turkish Airlines.
Como se locomover
Decidimos fazer uma roadtrip pelo Curdistão Turco. Como queríamos visitar além de Mardin outras cidades num raio de 100 km, alugar um carro era a forma mais prática, rápida e barata de locomoção. Alugamos um carro pela Rental Cars – Europcar.
Nossa CNH (e a PID) é válida para permanência de até 6 meses. Se for ficar mais tempo, providencie uma habilitação turca. Como nós já tínhamos a PID, levamos e foi a melhor coisa, pois eles não entendiam um “a” em inglês e ao menos a PID era conhecida deles, facilitando na hora da retirada do veículo (na Capadócia apresentamos os dois e também pegaram a PID, mas acredito que para facilitar as coisas).
Se você for ficar somente em Mardin, se hospedando na old city, não precisa de carro (é até um aborrecimento usa-lo nas ruazinhas estreitas e cheias de obstáculos). O ideal é caminhar pelas suas lindas ruelas de pedra. Mas também vi bastante ônibus vindo da cidade nova, então dá para se virar bem por conta.
Mas se também quiser conhecer outras cidades, li em alguns blogs que há ônibus intermunicipais, mas lógico que o roteiro acaba ficando um pouco mais engessado pelos horários disponíveis.
E em último caso, há sempre a opção de contratar empresas para fazer o passeio.
Não cheguei a usar Táxi e lá o Uber não é legalizado, então não posso comentar sobre estas opções.
Onde se hospedar
Sem dúvida alguma, no coração da Old City de Mardin.
Há diversas opções de hotéis para todos os gostos e bolsos (gente, até o Hilton era muuuito barato, mas ficava fora da Old City). No entanto, se atente à localização, tente não ficar muito distante da Ulu Camii (Grande Mesquita), ela tem uma localização bem central na Old city.
Nós nos hospedamos no Kaya Ninova Hotel, classificado como hotel de luxo, bem pertinho da Ulu Camii, com uma vista linda não só do nosso quarto, mas também do terraço, onde saboreamos um delicioso café da manhã (ao estilo turco) incluído na diária. Sabe quanto por todo esse luxo??? R$ 193,00 a diária para o casal!!
Há dois poréns:
- Não possuía estacionamento, mas conseguimos parar em frente da entrada no primeiro dia e no segundo o manobrista ficou responsável por isso;
- Somente um funcionário falava inglês (ainda bem que ele tava de plantão no dia que chegamos!).
Onde comer
Em Midyat – Geluske Hani. Localizado em um caravançarai, com ambiente aconchegante, funcionários que não falam inglês, mas que nos atenderam super bem, comemos uma das nossas melhores refeições de toda a viagem pelo Curdistão, mas também pela Turquia. Pedimos o prato só com especialidades locais e tava divino (e imenso)!!
Em Mardin – Seyr-i Merdin. Com uma vista incrível, um ambiente bem decorado e confortável e comida local muito gostosa, tivemos uma deliciosa experiência no nosso último almoço em Mardin.
Para mais opções, Tripadvisor sempre dá ótimas dicas e não me lembro de termos nos decepcionado!
Esse é só um dos muitos apps de viagem que uso antes e durante minhas viagens!
Comunicação
Gente, foi complicado. Nenhuma das cidades que visitamos do Curdistão Turco está preparada para o turismo internacional, ainda escasso. Mas nada que um Google Translate não resolva! Deixe salvo no seu celular o turco off-line, para o caso de você estar sem internet, parte importante no seu roteiro pela Turquia!
Nosso maior perrengue foi na hora de pegar o carro e dizer que não íamos aceitar um carro com pneu careca. Mas no restante, conseguimos nos virar muito bem sem nenhum grande trauma!
Expectativas
Na minha cabecinha, principalmente pela pouca informação turística em inglês (português é quase nula), achava que Diyarbakir e Mardin eram cidades pequenas. Acreditava que a população seria extremamente conservadora e que poderíamos, talvez, ter choques culturais. Acabei levando somente saias para não marcar o corpo e lenços para cobrir a cabeça, pois a última coisa que queria era atrair atenção negativa.
Chegando lá, eram duas cidades grandes, um pouco caóticas, muito trânsito e bastante ecléticas! Podia ter ido de calça…!! Só tive que usar véu para entrar nas mesquitas e em alguns pequenos vilarejos que percebemos que a grande maioria das mulheres o usava.
Diyarbakir achei um pouco maltratada, acredito que tenha sido por conta da maior parte dos ataques terroristas terem acontecido ali. No entanto, conhecemos somente a cidade velha.
Assim como Mardin, onde passamos a maior a parte do tempo na old city. Também não conseguimos ter uma verdadeira noção do que é a cidade em si.
Midyat ficamos pouco tempo na cidade mesmo, passamos mais tempo na periferia, mas me pareceu uma cidade mais tranquila de interior.
Dara, que achei que iríamos só ver umas escavações rapidinho, se mostrou uma joia da antiguidade. Entramos em duas cisternas incríveis, tão bonitas quanto as de Istambul. Em uma delas só tinha nós dois!!!! Na outra, tinha um coral de meninas aproveitando a incrível acústica da cisterna para gravar uma música.
Roteiro de 3 dias pelo Curdistão Turco
Nosso roteiro teria sido assim:
Primeiro dia – Chegada às 10h em Diyarbakir, passaríamos o dia conhecendo a cidade e no fim da tarde iríamos para Mardin, onde reservamos nossa hospedagem;
Segundo dia – conhecer Dara, Mydiat, se possível Hasankeyf e retorno a Mardin a noite;
e no terceiro dia – dia reservado para conhecer a Old City de Mardin. Nosso voo para Istambul era às 19h20.
Por que não foi assim?
Resumidamente, a Turkish alterou nosso voo e chegamos em Diyarbakir somente ao meio dia. Levamos quase 2h para retirar o carro, entre discussões sobre o estado do pneu e a falta de combustível, e ainda chovia…
No dia seguinte não conseguimos fazer Hasankeyf, porque acabamos nos apaixonando por Dara e passando muito mais tempo que o planejado lá (a gente não tinha noção do que era aquele lugar!!).
Sabia porque Dara nos conquistou!
No terceiro dia, conseguimos fazer quase tudo do planejado para Mardin. Porém, no fim da tarde começou a chover, subiu uma névoa super densa, de não conseguir ver quase nada. Nós fomos obrigados a cortar a caminhada até os pés da fortaleza pelas lindas ruelas em pedra… Mas já que estávamos de carro, fomos até um ponto mais baixo na planície e apreciamos a old city saindo do meio da névoa enquanto o tempo melhorava!!!
Existem muitos outros vilarejos e ruínas próximos, que a gente não tinha noção até ver um mapa no hotel. Infelizmente não deu tempo de fazer tudo que o lugar oferece. No entanto, acredito que os três dias tenham sido suficientes para se apaixonar, recomendar e querer voltar!!!
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