Roteiro por Varsóvia, a cidade que não se curvou.

Início da Segunda Guerra Mundial

Varsóvia já foi descrita como a Paris do Norte, considerada uma das cidades mais bonitas até a Segunda Guerra Mundial, quando passou a ter que lutar contra dois inimigos: os Alemães vindo do lado oeste e os Soviéticos do lado leste.

Em 1939, os alemães e soviéticos assinaram um tratado, conhecido como Pacto Germano-Soviético que, dentre outros acordos, estipulou secretamente que ambos invadiriam e dividiriam entre si o território Polonês. Para ambos, o Estado Polonês era ilegítimo.

Com o Tratado de Versalhes, a Alemanha perdeu uma faixa de seu território para a recém-nascida Polônia, separando duas províncias germânicas, território este conhecido como Corredor Polonês (sacou?). Por causa dessa faixa de terra, Hitler invadiu o país em 1º de setembro de 1939, culminando no início da 2ª GM. Após 16 dias de intenso combate, Varsóvia não resistiu.

No entanto, somente na noite de 16 para 17 de setembro de 1939 ficou claro aos poloneses que eles não tinham somente um inimigo. Nesta noite o Exército Vermelho cruzava a fronteira em busca da sua parte do acordo.

A Polônia foi uma das nações mais atingidas pela 2º GM. Não somente foi destruída, mas também a que mais sofreu perdas humanas. Cerca de 6 milhões de poloneses morreram. No país estavam situados os principais campos de concentração. Dos 3,3 milhões de judeus que ali viviam, somente 10%, sim dez por cento, sobreviveram.

Mas não foram somente os judeus que foram sacrificados pela fúria alemã. Afinal , para os alemães, a Polônia deveria desaparecer. Iniciou-se uma caça contra intelectuais, religiosos, nobres, todos enviados aos campos de concentração. Os que sobrevivessem, seriam mão-de-obra-escrava.

Gueto de Varsóvia

Em 12 de outubro de 1940, os alemães decretaram o estabelecimento de um gueto em Varsóvia, bairro onde os judeus eram forçados a viver trancados, sem sistema de esgoto e superlotados.

Por onde o muro do gueto passava.

A partir de novembro de 1940, todos os residentes judeus da cidade deveriam se mudar para aquela área cercada por muros com mais de 3 metros de altura, cercas de arame farpado e forte vigilância nazista e de colaboradores poloneses.

A população do gueto chegou a mais de 400 mil habitantes com a chegada de levas de judeus advindos de outras cidades, distribuídos em uma área de apenas 3,3 km2. Cerca de 30% da população de Varsóvia ocupava apenas 2,4% do território da cidade. O gueto foi um dos corações do Holocausto.

Monumento representando a passarela sobre a Rua Chlodna. Foi construída para conectar o bairro judeu que foi dividido em duas partes – grande e pequeno guetos, pois a Rua Chlodna era de interesse ao exército alemão. Veja fotos de como ela era.

Os suprimentos eram insuficientes. Entre 1940 e meados de 1942, mais de 83 mil judeus morreram de fome e de doenças.

Em 22 de julho de 1942 teve início a expulsão em massa dos habitantes do gueto. Em 52 dias, cerca de 300 mil judeus foram enviados ao centro de extermínio de Treblinka. A situação para os cerca de 80 mil judeus que ali restaram melhorou ligeiramente, mas ainda viviam na incerteza de quando seria a vez deles de morrer.

Levante do Gueto de Varsóvia

“Melhor morrer atirando em nazistas que em uma câmara de gás” era o “lema” do evento que ficou conhecido como Levante do Gueto de Varsóvia.

Em 19 de abril de 1943, cerca de 1,5 mil judeus do gueto iniciaram um levante em resistência ao genocídio de Hitler, munidos de armas de fogo, coquetéis molotov e pedras contra a polícia nazista. Estavam em desvantagem numérica, mas conheciam bem o terreno, atacando os nazistas em vielas e becos do gueto.

Memorial Mila 18 – Onde antes situava-se um bunker. Quando foi descoberto pelos nazistas, cerca de 300 pessoas ali estavam. A maioria se rendeu mas os comandantes do Levante não e se suicidaram.

Em 16 de maio de 1943 a explosão da sinagoga do gueto marca o fim do Levante e a derrota dos revoltos. A mando de Hitler, o gueto foi completamente destruído. Pelo menos 7 mil judeus morreram durante o Levante e cerca de 42 mil foram capturados e enviados para os campos de trabalho escravo e para o campo de concentração de Majdanek. Outros 7 mil enviados para serem mortos em Treblinka.

Monumento aos Heróis do Gueto, situado em frente ao Museu da História dos Judeus Poloneses (POLIN).

Resistência Polonesa

A punição às resistências polonesas era na proporção de a cada alemão morto, 100 poloneses seriam sacrificados. Logo, em 1941, os poloneses viam como solução somente a vitória de Stalin para serem libertados do terror nazista.

Em 1º de agosto de 1944, com a aproximação das tropas soviéticas, o Exército Interno Polonês (uma força de resistência nacional secreta), formado por cerca de 40 mil soldados mal equipados, levantou-se contra os ocupantes alemães para tentar liberar Varsóvia. Posteriormente, o intuito era conquistar o controle da cidade antes da chegada dos soviéticos.

Monumento ao Levante de Varsóvia

Os soviéticos não quiseram intervir e, em 2 de outubro de 1944, os alemães dominaram a revolta e ocuparam o centro de Varsóvia. Aqueles assistiram a 63 dias de combates sangrentos, que resultaram na morte de 2/3 do exército de resistência e de 200 mil civis.

Os alemães deportaram os sobreviventes da cidade e os prisioneiros de guerra eram enviados aos campos de concentração. Hitler determinou a implosão do que havia restado de pé. Cerca de 85% da cidade foi destruída, consagrando Varsóvia como a capital mais devastada na Segunda Guerra Mundial.

O Pequeno Insurgente – homenagem às crianças que lutaram no Levante de Varsóvia.

Em 17 de janeiro de 1945, os soviéticos libertaram a cidade dos alemães. Restavam somente 6% da população de antes da guerra.

Livres?

Durante os Free Walking Tours que fizemos na Polônia, os guias poloneses nos falaram que o regime comunista conseguiu ser ainda mais cruel que o regime nazista.

Palácio da Cultura e Ciência – prédio mais alto da Polônia e o 6º da UE. Foi construído em 1955 pela URSS como “presente” (vulgo exposição do poderio) ao povo polonês. Até hoje se destaca na paisagem da cidade. Atualmente funciona como centro de exposições, cinema, museus, escritórios além de ter um terraço com vista panorâmica da cidade.

1945 foi o ano da libertação do terror alemão. Mas a Polônia não ficou livre neste ano. O regime comunista substituiu o terror nazista pelo stalinista. Muitos poloneses foram prisioneiros tanto de Hitler como de Stalin.

Para os cidadãos da Polônia, a Segunda Guerra Mundial não acabou em 1945, acabou somente com o final da Guerra Fria, que culminou com a queda da URSS.

Como está Varsóvia hoje em dia

Varsóvia não é uma cidade atraente como sua antiga capital polonesa Cracóvia. Em contrapartida, sua história é fascinante! Hoje a cidade tem um novo título: Cidade Fênix, devido à sua longa história e completa reconstrução após a Segunda Guerra Mundial.

O início de sua reconstrução se deu em julho de 1953, através de um esforço coletivo de seus cidadãos, utilizando os próprios escombros quando possível.

Palácio Krasiński – reconstruído após o fim da 2ªGM.

Somente o centro histórico da capital foi reconstruído seguindo o modelo pré 2ª Guerra Mundial. A Cidade Velha de Varsóvia, atualmente com não mais de 10% de suas construções originais, foi declarada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1980. O restante da cidade seguiu o padrão de blocos comunistas e novos edifícios, que tivemos a oportunidade de ver em todos os países que passamos pela nossa viagem pelo Leste Europeu. Saiba mais sobre nossa preparação para essa viagem.

Os blocos soviéticos clássicos em contraste com a arquitetura da cidade velha.

Praça do mercado da cidade velha.

Visitando Varsóvia – Roteiro de 2 dias

Por alguns motivos que contarei em um post à parte na série “Perrengues Bárbaros”, não conseguimos concluir nosso roteiro de 2 dias pela cidade. Todavia, caso esses imprevistos não tivessem ocorrido, este tempo na cidade é mais do que suficiente para conhecer seus principais pontos turísticos e se aprofundar um pouco mais em sua sofrida história.

Castelo Real de Varsóvia

Nós chegamos um pouco antes do almoço, vindos de Cracóvia, e partimos para Praga no fim da noite do dia seguinte.

Onde se hospedar

Opte por se hospedar próximo à cidade velha ou da estação central. A primeira opção te deixará mais próximo dos principais pontos turísticos. No entanto, decidimos pela segunda opção para facilitar nossa chegada e saída da cidade e ainda assim a curtas distâncias do que queríamos visitar. Utilizamos o transporte público somente duas vezes, para chegar ao centro e de lá voltar para o ap no primeiro dia. A cidade é plana e dá para fazer tudo a pé.

Reservamos um apartamento pelo hoteis.com e deu muito errado. Aguardem mais um capítulo dos Perrengues Bárbaros!

Quando ir

As temperaturas na cidade raramente são desagradáveis. Durante o verão são poucos os dias que os termômetros passam dos 30°C, sendo a média de 24°C. No inverno as temperaturas médias são de -5°C, raramente passando dos -14°C.

Mesmo sendo amante do frio, viajar durante o inverno têm dois poréns: os dias curtos e muitas atrações possivelmente fechadas.

O verão, apesar de ter temperaturas suportáveis, também não é a melhor época por ser a estação de chuvas, que podem ser fortes e intensas.

Portanto, eu escolheria viajar na primavera ou no outono. Nós estivemos lá na primeira semana da primavera e foi a coisa mais linda de se ver!

Brotinhos!

Era o primeiro fim de semana de temperaturas mais altas, víamos muitos brotinhos, flores começavam a desabrochar e as pessoas saíam às ruas após o rigoroso inverno que fez naquele ano (2018 – ano da Besta da Leste, lembra? Se não, aqui uma reportagem para relembrá-los).

A cidade estava animada, colorida, festiva. Porém, muito quente para o meu gosto! Fazia uns 25°C. Não era essa a Polônia que eu esperava!! Hahahaha

Cidade Velha lotada, cheia de atividades!

O que fazer

No mapinha abaixo tem nosso roteiro de dois dias. Não conseguimos visitar os pontos em amarelo localizados no Parque Łazienki e nem subir no mirante do Palácio da Cultura e Ciência, por causa dos perrengues.

Não deixe de ir ao Taras Widokowy para ter a melhor vista do alto de Varsóvia e o ingresso é baratinho!

No entanto, o que me deixou mais chateada mesmo foi não ter podido visitar com calma o Museu do Levante de Varsóvia, na minha opinião ponto obrigatório na sua viagem para a cidade. Passamos voando pelo museu, que merece pelo menos 2h do seu dia.

O museu é super bem montado, interativo e fluído, retratando a história, os momentos-chave e os personagens deste importante evento da resistência polonesa à ocupação nazista. Definitivamente um must do para quem quer saber mais sobre este episódio tão importante para os Poloneses.

Museu do Levante de Varsóvia.

#FicaADica

Já ouviu falar dos free walking tours? São passeios guiados por locais que não te cobram nada por isso. Ao final, se tiver gostado, você deixa uma gorjeta, no valor que preferir. Não há nenhuma pressão para que você o faça. Comecei a fazê-los nessa viagem pelo leste europeu e me arrependi de não ter feito nas outras viagens. É a melhor forma de você conhecer a cidade e sua história: pelos olhos de quem vive lá e faz isso não apenas por dinheiro, mas também por prazer! Afinal, se não fizer um bom trabalho, não ganhará gorjeta ao final!

Fizemos 4 desses tours na Polônia, todos com a Free Walkative Tour, dos guarda chuvas amarelos e, com exceção de um, foram maravilhosos! Eles têm tours nas principais cidades da Polônia em inglês e espanhol.

Em Varsóvia, no primeiro dia, fizemos o tour “Historic Centre Old Town”, que gostamos bastante, no qual conhecemos os principais pontos da cidade. O guia foi o Pse, um historiador.

Barbakan de Varsóvia – remanescente da Muralha de Varsóvia, datada de 1540. No entanto foi totalmente destruída durante a 2ª GM e reconstruída posteriormente.

Reza a lenda que duas sereias irmãs nadaram do Oceano Atlântico ao Mar Báltico. Uma delas ficou em Copenhague. A outra sereia chegou em Varsóvia, via rio Vístula, e lá decidiu ficar. Um rico comerciante ao ouvir seu canto, a capturou para ganhar dinheiro com apresentações. Um pescador, ao ouvir seu choro, decidiu libertá-la. Em agradecimento, a sereia prontificou-se a ajudá-lo sempre que necessário. Por esse motivo, está armada com uma espada e um escudo.

Nem todos são bons…

O segundo dia, pela manhã, fizemos o tour “Jewish Warsaw”, que foi uma completa perda de tempo… O guia (não consigo lembrar o nome dele) era metido, me chamou de americana, de forma sarcástica, por causa do meu inglês (como se ele falasse um impecável inglês britânico, mas deixa pra lá). Além disso, ele falava baixo, de forma mega monótona deixando um assunto interessante um tremendo porre. O tour contava a história dos judeus antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial.

Ponto inicial do tour em frente à igreja católica All Saints e nosso adorado guia.

Enfim, depois de 2h30 extremamente longas, percebi que teria sido mais interessante o tour “Warsaw at War”, que iria contar a história do começo deste post, e teria encaixado melhor com o museu que visitamos depois.

Indicação de filmes

Antes da nossa viagem, assistimos diversos filmes com a temática da Segunda Guerra Mundial. Dentre eles, lembro de dois que se passam em Varsóvia e retratavam bem a temática do gueto, Levante e resistência que são “O Pianista” e o “Zoológico de Varsóvia”.

Inspire-se!

Este texto faz parte da Blogagem Coletiva com o tema “Cidades com História”. Os outros textos participantes são:

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