Namíbia, campeã mundial do perrengue!

Antes de mais nada: Ah Namíbia!! Nossa ida para lá já teve perrengue antes mesmo da viagem começar!

Decidimos nossa viagem de última hora, pois o Yu estava participando de um concurso. Não tínhamos planos de viajar no segundo semestre de 2019. Mas quando saíram as datas da fase de prova oral, percebemos que teríamos uma lacuna de quase 2 meses até saírem os resultados para a próxima fase. Partiu viajar!

A Namíbia já estava nos meus planos há alguns anos e calhou de naquele momento a passagem estar com preço bem bom! Bora tirar essa viagem do papel!!!

Tá conseguindo ver o Moby Dick (nosso carro) na fotinho? Do lado esquerdo, aquelas manchas pretas ao lado do mar, são foquinhas!!!!

Perrengue 1 – Tentando comprar dólares

O primeiro perrengue foi durante a compra de dólares. Comprei metade do que precisaríamos cerca de 2-3 semanas antes da viagem e a outra metade faltando 5 dias. Não é que essa segunda leva a casa de câmbio só conseguiria me entregar no dia da viagem? Achei arriscado e comecei a ver com outras casas de câmbio, mas por causa do valor, minha leva só sairia para entrega no mesmo dia da primeira casa de câmbio. Plano B, fui tentar comprar direito no banco. Não é que os caixas estavam sem dólares disponíveis! Socorroooo!

No fim consegui dólares emprestados de amigos, mas ainda faltaria um pouco. Contei com a sorte de ter dinheiro no caixa do banco no aeroporto. Ufa! Tinha! Mas acabamos pagando muito mais não só porque o dólar subiu nesse meio tempo, mas também por causa das taxas… Paciência. Partiu Namíbia! Ainda tava muito longe dos 5 reais atuais.

Como evitar:

Se tiver dinheiro, faça câmbio com pelo menos uma semana de antecedência da sua viagem, caso vá recebe-los em casa. Se for comprar no banco, compre tudo de uma vez, assim a taxa, que é fixa, dilui no valor e a facada é menor!

Nós tivemos que esperar cair o dinheiro das férias para comprar a segunda leva… Mas confesso que sempre fui vida louca e deixava sempre para a última hora. Um dia ia dar errado! Mas ao que tudo indica, no aeroporto sempre tem dinheiro nos caixas.

Perrengue 2 – Ataque dos babuínos

Nós alugamos um carro com equipamento de Camping para nossa viagem (se quiser saber mais, falei um pouco sobre isso no instagram – em breve sairá post sobre os preparativos dessa viagem aqui no blog). No segundo dia acampando não é que fomos quase roubados por um babuíno?

Waterberg Camp NWR – onde rolou nosso segundo perrengue bárbaro!

Na África esse tipo de situação é super comum, tanto que em qualquer lugar que você possa encontra-los, há diversos sinais informativos para ter cuidado, evitar se aproximar etc. Nesse Camping recebemos um folheto para termos cuidado.

A gente tinha acabado de almoçar, estávamos guardando as coisas quando vimos um grupo de babuínos. De repente, não sei exatamente como, um deles entrou na caçamba do nosso carro. Tentamos espantá-lo mas ele se levantou, mostrou todos os 400 milhões de dentes afiados que ele tinha e “rosnou” para a gente. Temos quase certeza que era o macho alfa, pois ele era muito maior que os outros e estava atacando sozinho. De pé em cima da tampa da caçamba, ele parecia ter uns 2 metros de altura. Nunca tive tanto medo de um bicho como dessa vez, e olha que já cheguei perto de muito bicho. Foi aí que falamos: fique a vontade, a casa é sua!!!

Sorte que estava tudo guardado e as alemãs que estavam acampando ao nosso lado conseguiram de alguma forma espantá-lo e ele foi embora sem nada.

No dia seguinte, com o pé mega atrás, estávamos montando a mesa do café da manhã, quando do além surgiram dois babuínos que rapidamente subiram na mesa, olharam para nossa cara e roubaram nosso saco de pão…

Em síntese: uma tentativa de roubo com grave ameaça e uma de roubo consumado!!

Com evitar:

Se você sabe que a área tem babuínos, a melhor estratégia é andar com uma pedra na mão. Nos alertaram sobre isso depois do primeiro causo e fomos obrigados a testa-la! Estávamos numa trilha quando de repente vimos vários babuínos se aproximando. Foi só eu pegar uma pedra no chão que eles se afastaram!! Ufa!!

Na volta dessa trilha que fizemos o teste da pedra! Olha nosso Camping lá embaixo!

Nessas áreas tenha muito cuidado com seus pertences, eles pegam mesmo. Vimos uma cena em outro Camping do babuíno entrar no trailer pela janela e sair carregando dois pacotes brancos. Os bichos são malandros, meu!!

Como você não vai deixar de comer por causa disso, coloque na mesa somente o necessário e fique esperto. Depois que aprendemos o truque da pedra, não tivemos mais problemas.

Mantenha a calma, não adianta se desesperar. Converse com quem tenha mais experiência sobre que atitudes tomar que vai dar tudo certo. Os animais só atacam quando se sentem ameaçados.

Perrengue 3 – Virei testemunha!

A maioria dos campings que ficamos eram bem isolados, mas esse em particular ficava muito próximo ao pequeno povoado de Khorixas.

Todos os campings possuem segurança 24h, são cercados, mas nenhum lugar do mundo é 100% inviolável.

A gente estava fazendo nosso jantar, o Yu na churrasqueira e eu na mesa bebendo vinho (para variar). Em certo momento ouvimos dois estouros muito parecidos com tiros.

O Yu achou que poderia ser um caçador e eu não achei nada, continuei bebendo meu vinho!

De repente, olho para a direita e vejo uma bunda branca correndo, gritando coisas incompreensíveis  e com um objeto muito semelhante a uma arma na mão (pistola ou revolver).

Essa mesma pessoa volta para o quarto (Ah! O camping fica no mesmo local dos lodges. Estávamos a cerca de 20 metros deles), se veste, entra no carro, canta pneu loucamente e dirige feito louco tentando sair do Camping.

Os alemães!

Imediatamente, eu e o Yu nos olhamos e corremos em direção a um grupo de alemães que ali também acampavam. Naquela hora a gente tinha certeza que a pessoa tinha matado alguém e tava tentando fugir e, nós que estávamos mais próximos, éramos testemunhas que deveriam ser eliminadas!!!

Não somos tão brancos e loiros, mas deu para se misturar ao grupo de alemães e assim salvar nossas vidas!!! Hahahahahaha

Algum tempo depois chegou a polícia e o suposto assassino. Quando nossa carne já tava virando carvão, a administração do local nos disse que o hospede, ao sair do banho, viu uma mão pela janela pegando suas coisas e reagiu atirando na direção da mão. Como a janela ficava na parede oposta à porta do quarto, ele saiu peladão correndo atrás do dono da mão. Não o encontrando, tentou persegui-lo com seu carro, mas já era tarde demais, ainda mais porque, quando ele tentou sair do camping, os seguranças todos tinham se deslocado para o chalé dele para ver o que tava acontecendo, não tinha ninguém pra abrir o portão!!

Ufa, não seremos mantidos no país como testemunhas, tampouco teremos que entrar em algum programa de proteção a testemunhas!!!

Como evitar:

Infelizmente não tem muito o que fazer numa situação dessas. A Namíbia, assim como o Brasil, possui problemas de segurança, mas definitivamente para aqueles que moram nas grandes metrópoles brasileiras, nada que a gente não esteja acostumado. Pra falar a verdade, lá é mais seguro que muita cidade brasileira.

Se algo do tipo acontecer com você em qualquer lugar do mundo, procure um lugar seguro e deixe a curiosidade de lado.

Há males que vem para o bem: Fizemos amizade com esses alemães e com o guia Valentino, com quem cruzamos a viagem toda, nos despedindo definitivamente poucas horas antes do perrengue 4!

E aí, conseguimos nos passar por alemães?

Ao menos depois dessas duas experiências não muito agradáveis, tivemos uma experiência bárbara em Spitzkoppe!

Perrengue 4 – Nosso segundo aniversário

O carro que alugamos era uma Hilux, veículo sabidamente instável e que responde muito mal a desvios bruscos.

Moby Dick posando para a foto nas infinitas estradas de areia da Namíbia.

As estradas da Namíbia não são nada seguras. São poucas estradas de asfalto, em ótimo estado, que ligam somente as grandes cidades (cerca de 10% das estradas), no entanto estreitas, sem acostamento ou área de escape, com velocidade permitida de 120 km/h inclusive para ônibus e caminhões e circundadas por areia.

As demais estradas são de areia, algumas em melhores condições que as nossas estradas asfaltadas, mas com velocidades permitidas impensáveis, além dos 80 km/h.

0.9.143

Ao pegarmos o carro, a proprietária nos deu uma excelente aula de como dirigir nas estradas Namibianas, para evitar acidentes.

Ao longo da viagem percebemos como a Hilux era instável. Qualquer curvinha em estrada de areia era traseira saindo.

Já falei que tem muita areia?!

Mas não estávamos muito preocupados. Somos muito responsáveis, seguimos todas as orientações e sempre na direção defensiva.

Ainda assim, certas coisas estão fora do nosso controle.

O dia D

Era o nosso penúltimo dia de viagem, 29 de outubro de 2019. Era só asfalto dali para frente. O pior tinha passado (a grande maioria dos relatos que li tinham ocorrido nas estradas de areia). Eu estava dirigindo naquela hora, pois o Yu estava muito cansado e pescando na direção.

Naquele momento já estava acostumada e relativamente segura na mão inglesa (nem tava mais ligando o limpador de para-brisas ao tentar ar seta!). Mas diferentemente de todo o resto da viagem, ali o fluxo de veículos era enorme, incluindo muitos caminhões.

A cada caminhão que passava com velocidades beirando os 120Km/h, a gente sofria influência do vácuo deles, que nos empurrava um pouco para o lado esquerdo.

Até que veio aquele caminhão. Em alta velocidade e um pouco deslocado para a esquerda. Reduzi a velocidade e fiquei um pouco mais a esquerda. Acho que foi esse o problema. Ao passar pela gente, muito próximos da beirada da pista, não deu outra, o carro foi jogado para fora, caímos no areião e a instável Hilux perdeu o controle.

Ai baixou o desespero, eu puxo a direção de uma vez para voltar para a pista. Para quê? O descontrole tomou conta. O Yu até tentou ajudar, mas não tinha mais volta. Nosso mundo começou a girar. E girou 7 infinitas vezes até parar.

Não ouvia nada além dos gemidos do Yu. Só queria que aquilo tudo acabasse. Acabou. Estou viva?

– Yuuu, sai do carro. Sai do carro!!!

Não me pergunte como saí, só sei que nem pisei no chão e já estava como uma Gazela de Thompson, nas palavras do Yu, catando nossas coisas que estavam espalhadas em uma área de cerca de 20 metros de diâmetro.

Sobrevivemos!

Estou viva! Estamos vivos!

Machucados, com dor, mas vivos!

Em certo momento chegou uma pessoa e mandou eu parar. Foi aí que percebi que estava com um corte grande no braço, sangrando e a pressão já baixa, baixou ainda mais. Mas não desmaiei. Tinha que ter um certo controle da situação. Estávamos no meio do nada, a cerca de 30km do próximo povoado. O Yu sentia muita dor, precisava pedir ajuda.

A pessoa que mandou eu sossegar já havia acionado a polícia e a ambulância. Era esperar. Nesse meio tempo, liguei para a minha mãe. Nunca na vida havia mantido a calma daquela forma. Liguei para a dona do carro. Ela acionou o guincho.

O falecido Moby Dick.

Logo depois liguei para o seguro saúde. Essa parte merece um post só para ela – Desdobramentos do nosso acidente na Namíbia!

Como evitar:

Novamente as palavras chave são “Manter a calma”.

A proprietária do veículo nos havia ensinado como sair desse tipo de situação, pois é super comum acontecer isso lá, mas na hora nem me passou pela cabeça aquilo. Foi totalmente inconsciente a minha reação, o que a grande maioria das pessoas teria feito. Ela explicou que, se uma roda sair do asfalto, lentamente sair com todo o carro da pista, sem manobras bruscas, e parar suavemente. Respirar fundo, recuperar a sanidade, e voltar pra pista.

Ainda bem que isso aconteceu somente no penúltimo dia de viagem, pois pudemos aproveitar 14 dias incríveis nesse país maravilhoso. Ficou aquele mal-estar logo após o acidente? Com certeza. Mas hoje já queremos voltar e terminar a viagem do jeitinho que havíamos planejado, e quem sabe incluir muito mais!

Eu espero de verdade que vocês não deixem de querer visitar a Namíbia por causa do meu relato. Esse país é incrível, tivemos experiências maravilhosas que de forma alguma foram superadas pelos maus momentos. Algumas situações poderiam ter sido evitadas, mas outras não tem como evitar o acaso. A forma como você lida com cada situação é que a tornará totalmente desagradável a ponto de estragar a sua viagem ou você poderá aprender com ela e ter uma experiência bárbara!!!

É ou não é lindo demais esse país? Aqui é Spitzkoppe, onde fica o pão de açúcar mais lindo que você já viu!

Perrengues de Viagem

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva com o tema “Perrengues de Viagem”. Quer saber quais foram os perrengues das meninas? Só clicar nos links!

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