Vivência na Selva Amazônica – Pousada de Selva Jacaré
Se você curte turismo de experiência, ecoturismo e turismo de base comunitária, certamente irá amar essa vivência na selva amazônica que tivemos na Pousada de Selva Jacaré, localizada às margens do Rio Negro na comunidade de São Thomé.
O que é:
Turismo de Experiência
Em contraposição ao turismo de massa, o turismo de experiência concentra-se em experiências autênticas e únicas.
Seu conceito por si só pressupõe que é amigável ao meio ambiente, pois trabalha com pequenos grupos, com consciência ambiental e minimização de impactos ao ambiente, colaboradores e comunidades envolvidas.
Dentre os muitos nichos desta modalidade, entram o turismo de aventura, o ecoturismo e o turismo de base comunitária.
Ecoturismo
É aquele que tem como objetivo uma interação consciente e sustentável com a natureza, com foco na educação ambiental, conservação e preservação do meio ambiente.
Turismo de Base Comunitária
Esta modalidade envolve a população local em todas as etapas dos projetos turísticos e sua efetiva gestão. Desta forma, a comunidade possui maior autonomia nas tomadas de decisão sobre como será explorado seu território, visando em especial a sustentabilidade.
O Turismo de Base Comunitária contribui não só com o desenvolvimento socioeconômico daquela comunidade, mas também fortalece e preserva sua cultura, costumes e o meio ambiente em que vivem.
Dentre os exemplos, temos o turismo de base comunitária em comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas.
Comunidade Ribeirinha de São Thomé
A vila cabocla ficou nacionalmente conhecida após aparecer no programa do Luciano Huck no quadro “A Festa é Sua”, no final de 2010.
A vila foi fundada em 1982 e está a cerca de 2h de barco de Manaus (ou 1h por terra mais 1h de barco), à beira do Rio Negro, no meio da Floresta Amazônica, e sua economia gira em torno da pesca, artesanato e turismo de base comunitária.
Desde 2008 a vila tornou-se parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro com o intuito de preservação da floresta e da comunidade, evitando dessa forma a exploração e a destruição desenfreada.
Pousada do Jacaré
A Pousada de Selva Jacaré é fruto do esforço do seu “Jacaré”, senhor de 72 anos de idade, cheio de vigor e alegria, que trabalhou a vida toda no setor de turismo, como guia, sonhando com o dia em que teria seu próprio negócio.
Inicialmente a pousada nada mais era que um alojamento em palha, com acomodação em redes. Depois passou a ter 4 quartos com banheiro compartilhado.
Atualmente a pousada, em madeira sobre palafitas, conta com 8 suítes, além de varandas, redário e um restaurante comandado pela dona Nair, esposa do seu Jacaré.
Há energia elétrica 24h e um telefone fixo, contudo não há wi-fi e nem sinal de telefonia móvel.
Um ponto importante: A pousada é integrada à natureza. Se você se apavorar com qualquer bichinho que aparecer, talvez você não deva ir à selva amazônica.
Suítes
A pousada é bem rústica, simples, porém muito confortável. Uma forma muito autêntica de se desligar do mundo urbano sem abrir mão do essencial.
Os quartos têm bom tamanho e comportam até 4 pessoas. O principal: todas têm ar condicionado!
O banheiro possui uma boa ducha com água à temperatura ambiente. A experiência do banho é diferente de dia e de noite:
- De dia, a água começa bem quente, e vai esfriando até ficar refrescante.
- De noite, em um primeiro momento vai parecer fria, mas após um minuto a água já começa a ficar morna, de tão quente que é aquele lugar!
Você vai sentir falta de cada revigorante banho que tomou lá!
Caso possua muitos eletrônicos para carregar à noite como nós, melhor levar uma régua ou um benjamin, pois há somente uma ou duas tomadas no quarto.
Restaurante
Todas as refeições são preparadas pela dona Nair, utilizando ingredientes locais, alguns deles colhidos ali no quintal!
No café da manhã há suco natural, frutas, tapioca, pão, queijo, frios, leite, café, bolinho de chuva (maravilhoso), dentre outros.
No almoço e jantar a proteína é sempre peixe inteiro frito. A cada refeição provamos uma espécie diferente! Adorei todas! De acompanhamento arroz, feijão, farinha, salada e suco natural. Aquela comida caseira que dá vontade de repetir 10 vezes!
Área externa
O exterior da pousada é muito agradável e sombreado, rodeado pela Floresta Amazônica! Há varandas e um redário, este próximo ao restaurante, onde você pode fazer um siesta pós refeição ao som da fauna da região.
A poucos metros está o Rio Negro, caso você queira dar um mergulho.
Como conhecemos a Pousada do Jacaré
Quando fechei minha viagem para Manaus, a primeira coisa que fui atrás foi de agências para fazer a vivência na selva amazônica. No entanto, as mais conhecidas oferecem passeios para grandes grupos, pouco personalizáveis, autênticos ou sustentáveis, coisas totalmente em desacordo com nosso perfil.
Foi aí que a Ju (@sopensoemviajarr) me indicou a Pousada de Selva Jacaré, que era exatamente aquilo que procurava. Uma verdadeira vivência na selva amazônica e de Turismo de Base Comunitária, apoiando a comunidade local e com respeito ao meio ambiente.
Entrei em contato com o Sidney, guia em Manaus e intermediário, com quem tirei todas as minhas dúvidas.
Minha indagação mais importante: há exploração de animais selvagens?
As agências mais conhecidas têm em seu catálogo fotos e vídeos de pessoas segurando preguiças, que é crime ambiental, com pessoas cercando botos cor de rosa (me parece uma sessão de tortura), um tipo de turismo que me recuso a patrocinar.
Na Pousada de Selva Jacaré esse tipo de situação não ocorreria!! Era o que eu precisava saber para fechar negócio!
Seja um turista consciente, não patrocine o turismo exploratório de animais. No texto “Turismo Animal: experiência ou exploração?” você poderá entender melhor o quão cruel é esse tipo de turismo.
Tipos de pacotes
Os pacotes de vivência e imersão na selva Amazônica de Turismo de Base comunitária podem ser de 2 a 5 dias. Todos incluem hospedagem em suítes com ar condicionado, pensão completa, translado ida e volta do aeroporto ou de outro ponto de Manaus e alguns passeios, dependendo do pacote selecionado.
Agua mineral e sucos naturais estão incluídos no pacote. Bebidas alcoólicas e industrializadas são pagas à parte.
Dentre os passeios oferecidos há:
- Observação de animais como preguiças, macacos, aves, répteis, botos, insetos, em seu habitat natural.
Aqui faço uma observação: Lembre-se que você está no meio da floresta e não em um zoológico. Não vá com altas expectativas de ver todos esses animais.
Será uma questão de sorte, de estar no lugar certo na hora certa. E essa que é a magia da coisa. Quando você os encontra e os observa em seu habitat natural, sem interferência humana, é simplesmente incrível!
- Observação da flora, incluindo belíssimas árvores centenárias;
- Caminhada na selva com várias explicações do seu Jacaré sobre terapias tradicionais com seus insumos;
- Praias do Rio Negro com banho de rio;
- Navegação pelo Rio Ariaú;
- Nascer e pôr do sol, contemplação do céu noturno;
- Pernoite na selva;
- Visita à comunidade indígena.
Como foi nossa vivência e imersão na selva Amazônica na Pousada de Selva Jacaré
O pacote escolhido foi o de 4 dias e 3 noites.
Dia 1
Chegamos em Manaus por volta de meio dia. Fomos recepcionados pelo Sidney e pelo James e seguimos de carro até o ponto onde o seu Jacaré nos aguardava para continuarmos de barco.
Este primeiro contato com a Floresta Amazônica, no trajeto de barco até a pousada, já é uma experiência incrível. A grandiosidade da floresta, do Rio Negro, os sons, as paisagens, já me encheram de emoção e de uma energia que nunca havia sentido antes. Não há foto ou vídeo que consiga transmitir o que você sente lá.
Ao chegar na pousada, fomos muito bem recebidos pela dona Nair com uma deliciosa jarra de suco de Cupuaçu, que eu amo, e um almocinho! E, diga-se de passagem, não tem coisa melhor que tomar um suco da fruta de verdade, e não da polpa que compramos aqui em Sampa!
Descansamos brevemente e fomos passear de canoa, um pouco antes do pôr do sol, pelo Igarapé do Inglês. Cruzamos com botos cinzas, ficamos navegando no meio do igapó até o cair da noite, voltando sob o céu estrelado.
Ao chegarmos, desfrutamos de um delicioso jantar e por volta de 20h30 já estávamos desmaiados (havíamos dormido pouco na noite anterior, pois tivemos que acordar às 2h30 para ir para o aeroporto). Dormimos pesadíssimo!
Dia 2
Acordamos antes do nascer do sol e fomos contempla-lo à beira do rio. Ao voltarmos, nos deliciamos com o café da manhã antes de iniciarmos a caminhada pela selva, durante a qual seu Jacaré nos explicou sobre a fauna e flora e seus usos na medicina e cultura indígenas e caboclas.
Tivemos a oportunidade de experimentar direto da árvore a substância que é utilizada na produção dos medicamentos contra malária e da água tônica, o quinino. Que negócio ruim!
Foi uma aula e tanto do seu Jacaré ao longo de 2 horas de caminhada. Ao retornarmos, o almoço nos esperava.
Depois de uma siesta no redário, fomos nadar no rio ali em frente à comunidade, em busca de refresco, onde tivemos nosso primeiro grande contato corporal com o Rio Negro. Socorro, que água quente!
Meu, é mais quente que banheira. Zero refresco naquela tarde com temperatura provavelmente acima dos 35°C!! Nos disseram que estava mais quente que o habitual, por conta de o rio estar baixando bem devagar naquele período.
Depois fomos tomar um café e conversar com o seu Paulo e a dona Vânia, moradores da vila, que vendem lindas redes (lógico que trouxemos uma na mala, para o desespero da nossa balancinha de viagem!).
Próxima atividade: pernoite na selva amazônica! Gente, quase não rolou essa vivência, pela qual eu estava super empolgada. Isso porque, na hora que a gente tava para sair, começou a fechar o tempo, com muitos raios.
Uma coisa que aprendemos é que o problema de tempestade na floresta não é a chuva em si, mas os raios e ventania que a acompanham.
Pausa para a biologia!
O solo amazônico é bastante arenoso, rochoso nas camadas mais inferiores e pobre em nutrientes.
Por este motivo, as raízes das plantas são bastantes superficiais, não só por não conseguirem atravessar a camada de rochas, mas também porque todo o nutriente está na superfície, proveniente da decomposição da matéria orgânica proveniente das folhas que caem no solo. Além disso, o índice pluviométrico permite que o solo raso esteja sempre úmido.
Em resumo, a própria floresta se mantém. Por isso que quando ocorre desmatamento da floresta amazônica, não se consegue produzir muito (seja na pecuária ou agricultura), e o solo descampado sofre facilmente com processos de erosão e desertificação. Se você olhar no mapa mundi, verá que grande parte da região do equador é formada por desertos. A Amazônia é exceção.
Pena que muita gente faltou às aulas de biologia e usa a desculpa da economia para destruir a floresta…
Como as raízes são muito superficiais, qualquer vento mais forte derruba uma árvore enorme pela raiz. Aí que mora o perigo de estar na floresta durante uma tempestade com vento, algo bastante comum por lá em qualquer época do ano.
Para nossa sorte, a tempestade se dissipou e pudemos seguir com o plano original. Contudo, chegamos já com o sol quase se pondo, o que prejudicou a pesca do nosso jantar (os peixes já tinham ido dormir!).
Seguimos de barco até um igarapé próximo, onde montamos nosso acampamento, que era basicamente 4 redes a céu aberto e uma fogueira!
Enquanto a gente jantava (sim, tinha o plano B. Ufa!), seu Jacaré nos contou uns causos! Depois do jantar nós iríamos dar uma volta de barco para fazer focagem de jacarés, mas o sono nos pegou!
Essa experiência detalhada será tema de outro texto. Aguardem!
Dia 3
Desmontamos acampamento antes do nascer do sol e fomos apreciá-lo do meio do rio Negro. Que esplendor! Tivemos até uma visita inesperada de um boto cor-de-rosa, que quase matou o seu Jacaré do coração!!! Descobrimos que ele tem medo de boto.
De lá retornamos para a pousada para um merecido café da manhã e para nos trocarmos antes de iniciarmos o dia mais intenso dessa vivência e imersão na selva Amazônica.
Rio Ariaú
O dia começou rumando sentido Rio Ariaú, muito famoso por abrigar o hoje abandonado Hotel de Selva Ariaú Amazon Tower. O hotel recebeu diversas personalidades como Bill Gates, Leonardo DiCaprio, Jennifer Lopez, Luciano Huck (enquanto reformava a Pousada de Selva Jacaré), dentre muitos outros.
Algumas diárias custavam a bagatela de 3 mil dólares! No entanto, com a má gestão, dívidas, processos trabalhistas e o falecimento do patriarca, a família não conseguiu mais mantê-lo, sendo então leiloado, e na falta de interessados, abandonado em 2016.
O Rio Ariaú também é conhecido por ter sido cenário de filmes, como Anaconda, e de reality shows, como Survivor. Confesso que a cada movimento esquisito na mata ou na água já achava que seria engolida por uma Anaconda! Como sou influenciável!!!
A navegação pelo Rio Ariaú incluiu não só uma parada nas ruínas do hotel, como também para conhecermos a rainha da Amazônia, a Samaúma, que pode atingir até 90 metros de altura. Ela se destaca no skyline da floresta!
A rainha se destaca na paisagem!
Também ao longo dessa rota pudemos apreciar uma das paisagens mais bonitas da Floresta Amazônica, com diversos ipês colorindo a paisagem, e vários macaquinhos de cheiro e prego, ainda com memória dos fartos tempos do hotel, curiosos com aqueles humanos!
Pesca
Antes de seguirmos para o próximo ponto, paramos para pescar o jantar da nossa última noite na selva amazônica. Por incrível que pareça, foi muito divertido. Demorei para pescar o primeiro, mas depois consegui pescar, por duas vezes seguidas, 2 piranhas com uma só isca. Pescadora nata!
O primeiro peixe que pesquei era vegano!
Enquanto isso, seu Jacaré já tinha pescado uns 20 peixes de sei lá quantas espécies diferentes. Já o Sidney quase pescou um Tambaqui, só que ele quebrou a linha e escapou.
Lógico que a gente não podia perder a piada. Cada vez que ele contava para alguém, a gente o desmentia, e o zuamos o restante da viagem com sua história de pescador!!!
Prainha do Davi
Famintos, seguimos para a prainha do Davi, onde almoçamos e tivemos a oportunidade de interagir com os botos cor de rosa.
Como assim Barbara, que hipócrita você é. Fala que é contra turismo exploratório de animais e interage com os botos? Calma, isso vou explicar detalhadamente também em um texto à parte!
Comunidade Indígena Kubeua
Depois de sermos cozidos pelas águas do rio negro, seguimos para a comunidade indígena Kubeua, onde fomos recepcionados pelo Pajé/Cacique, que nos explicou um pouco sobre sua cultura e com quem tivemos a oportunidade de bater um papo descontraído.
Uma vivência muito autêntica na selva Amazônica, muito diferente da que tivemos em uma tribo na Namíbia. Essas experiências vou relatar em texto à parte, pois quero fazer um comparativo entre elas.
De volta à comunidade, ficamos à toa até a hora do jantar, quando a dona Nair preparou os peixes que pescamos. Não é que piranha é boa!!! Me senti muito provedora de alimentação hahahaha! De barriga cheia, novamente capotamos por volta das 21h, dormindo feito bebês!
Dia 4
Acordamos novamente antes do nascer do sol, dessa vez para seguirmos viagem para Manaus. Estava acabando nossa vivência e imersão na selva Amazônica. Tomamos nosso último café da manhã preparado pela dona Nair e partimos para o barco. Tivemos mais 1h20 de navegação contemplando a floresta antes de voltar para a cidade.
As atividades do dia 4, que inclui o encontro das águas, serão tema de texto a parte, já que ela foi feita por uma outra empresa, apesar de estar incluída em nosso pacote de 4 dias com a Pousada de Selva Jacaré.
O Sidney também seria nosso guia nesse passeio, mas por um contratempo, ao fim, outro guia foi no nosso barco.
Veredicto
Eu simplesmente amei nossa vivência e imersão na selva Amazônica com a Pousada de Selva Jacaré. Foi melhor do que eu esperava. Fomos muito bem recepcionados e guiados pelo Sidney, pelo seu Jacaré e dona Nair. Nos sentimos parte da família deles.
Nos divertimos com as histórias e aprendemos muito com o seu Jacaré, que nos acompanhou em as atividades. Tivemos oportunidade de ter uma experiência autêntica em uma comunidade ribeirinha, com muito respeito ao meio ambiente. Adorei essa experiência de Turismo de Base Comunitária.
Inesperadamente, me emocionei com a grandiosidade e energia da floresta amazônica.
Para mim isso é ostentação: ter experiências genuínas, autênticas e bárbaras, que me marcaram e me moldarão para sempre!
Espero que esse texto tenha te inspirado a viver também essa experiência, que de simples não tem nada!!
Contatos
Instagram da Pousada de Selva Jacaré
Site da Pousada de Selva Jacaré
Whatsapp do guia Sidney: 92 98110-3788
Essa viagem ocorreu em parceria com a Pousada de Selva Jacaré.
4 Comentários
Juliana
Bah que bom que gostaram, e na verdade eu não tinha dúvidas. É realmente uma ostentação jma. Experiência tão incrível como essa.
Ah só uma observação: esse papo de “dormimos como um bebê” tá errado viu? Não sei de onde tiraram isso pq os bebês dão muito trabalho pra dormir e despertam demais kkkkkkk socorro
barbaracortat
Foi fantástico, Ju, além das nossas expectativas!
Tenho certeza que se tivéssemos ido nos passeios com agências mais conhecidas, que em geral não possui esse trabalho comunitário e consciente, não teríamos gostado tanto.
Roberto
Achei curiosa a parte sobre exploração animal para em seguida a pesca esportiva ser divertidíssima.
De qualquer forma, Jacaré parece ser uma experiência incrível!
barbaracortat
Roberto, no caso a gente estava pescando para comer, é diferente da pesca esportiva na qual o peixe é devolvido ao rio após ser fisgado. Esse tipo de prática sou contra.
Por isso escolhi viver essa experiência em um local administrado pela comunidade local e não por uma grande agência.